SBBNews ENTREVISTA PROF. AMIR JALILIAN


O Workshop “Radioimmunotherapy and Peptide Receptor-based Radionuclide Therapy” tem o apoio da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, em Inglês) e coordenação dos pesquisadores João Alberto Osso-Junior e Amir Jalilian, da IAEA, e René Leyva Montaña, do CENTIS, Cuba.

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O Dr. Amir Jalilian tem graduação e doutorado em Farmácia pela Tehran University of Medical Sciences, pós-doutorado (biologia molecular) pela School of Medicine, Yale University (EUA) e  pós-doutorado pela Faculty of Pharmacy and Medical Sciences, University of Alberta (Canadá). Publicou mais de 250 artigos em revistas indexadas e três livros e orientou mais  de 50 dissertações de mestrado e teses de doutorado. Atualmente, é oficial técnico e professor do Departamento de Ciências Nucleares e Aplicações da IAEA, como especialista em produção e controle de qualidade de radiofármacos, estudos de biodistribuição e farmacocinética de novos ligantes para radionuclídeos, marcação de peptídeos e moléculas para aplicações em diagnóstico e terapia.

SBBNews: Com relação à inovação tecnológica, quais são as vantagens comparando cíclotron  e reator para produção de Mo-99, considerando alvos, métodos de purificação, rejeitos radioativos e recursos humanos?

Prof. Jalilian: A nova abordagem na produção direta de Tc-99m usando cíclotrons oferece inúmeras vantagens, tais como disponibilidade de cíclotrons ao redor do mundo, ausência de problemas para gerenciamento de rejeitos radioativos e não envolvimento com o enriquecimento de urânio. Contudo, há também desvantagens, como a limitada oferta de molebdênio enriquecido para o isótopo Mo-100 utilizado como alvo de bombardeamento nos cíclotrons, limitado tempo de uso do Tc-99m devido às impurezas radionuclídicas presentes, tecnologia de recuperação de alvo pouco desenvolvida, logística de distribuição mais complexa se comparada com a distribuição de geradores de Tc-99m. Mas, para países pequenos e com poucos hospitais, a produção de Tc-99m em cíclotron podeser uma boa opção para atender as necessidades locais caso persistam os problemas de abastecimento de molibdênio (Mo-99) por fissão (o qual é produzido em reator).

SBBNews: Quais são os desafios para produção de emissores alfa para terapias radionuclídicas?

Prof. Jalilian: De acordo com os dados científicos disponíveis sobre os potenciais benefícios da aplicação de alfa-emissores, como o alcance da partícula emitida no decaimento limitada ao alvo e com alto LET (transferência linear de energia), ainda existem inconvenientes na aplicação de radionuclídeos alfa na terapia clínica de rotina. A limitada fonte de materiais radioativos no mundo, necessidade do uso de complexas técnicas de separação e geração de vários radionuclídeos secundários durante a produção, aliada à falta de agentes terapêuticos com alta afinidade para alvos moleculares na células tumorais,  como imunomoléculas (anticorpos, aptameros e peptídeos), são as limitações mais importantes neste campo.

SBBNews: A pesquisa em tecnologia de radioisótopos acompanha o desenvolvimento da biologia molecular? Quem decide em qual molécula os recursos financeiros serão aplicados?

Prof. Jalilian: A pesquisa/produção de radioisótopos é, em geral, baseada em necessidades locais e demandas da medicina nuclear, interesses científicos e da indústria. Com base nessas demandas e infraestrutura disponível, laboratórios biomédicos colaboram no desenvolvimento de moléculas radiomarcadas. Existem bons exemplos de alguns países que desenvolveram suas próprias biomoléculas radiomarcadas, considerando o interesse da classe médica. Essas experiências bem sucedidas foram usadas na clínica e obtiveram aprovação (registro do medicamento) segundo marcos regulatórios nacionais.

SBBNews: Como a IAEA incentiva a pesquisa pré-clínica e clínica com radiofármacos em países em desenvolvimento? Em sua opinião, como a indústria farmacêutica internacional administra pesquisas em países com diferentes marcos regulatórios? 

Prof. Jalilian: A IAEA, como um organismo internacional, tem facilitado produção, controle de qualidade, avaliação pré-clinica e aplicações clínicas de radiofármacos através de todos os mecanismos possíveis, como programas coordenados de pesquisas, reuniões técnicas, reuniões de consultores, bolsas de estudos, missões de especialistas e também desenvolvendo guias com orientações (“guidelines”), protocolos e livros sem custos para todos os países membros da IAEA. Também tem patrocinado participação de pesquisadores em importantes eventos internacionais. A indústria farmacêutica internacional, geralmente, está ávida por desenvolver estudos clínicos com os países com legislação conhecida e há muitos exemplos bem sucedidos em traçadores de Ga-68 (radionuclídeo emissor de pósitrons).

SBBNews: Quais são as perspectivas para o mercado de peptídeos? Como reduzir o custo para o seu desenvolvimento? Quais são as vantagens em importar moléculas ao invés de estimular pesquisas e patentes?

Prof. Jalilian: Devido à superioridade técnica no desenvolvimento de peptídeos radiofarmacêuticos como disponibilidade de diversos alvos oncológicos, protocolos de síntese conhecidos, estabilidade química e biológica e também pela disponibilidade de muitas empresas especializadas na síntese de peptídeos, o presente e futuro da produção de peptídeos radiofarmacêuticos e sua aplicação é tão promissor. Por outro lado, a disponibilidade de radionuclídeos no intervalo da meia-vida biológica do peptídeo (com Tc-99m e Ga-68) oferece possibilidade para o medicamento ser apropriado para técnicas de imagem. Sem falar nos peptídeos marcados com Lu-177, Y-90 (e possíveis alfa emissores no futuro), os quais são ferramentas importantes na radiofarmácia terapêutica. Esta é a opinião sobre peptídeos marcados com radionuclídeos. Já a pesquisa na síntese de peptídeos é um assunto completamente diferente. Se o país deseja produzir peptídeos testados e aprovados, a estratégia mais fácil é importar o peptídeo porque a quantidade de peptídeo usada é muito pequena. Se o país deseja desenvolver novos peptídeos e marca-los com radionuclídeos, a infraestrutura necessária é diferente, mais cara e dependente da política do país em desenvolver novas biomoléculas, as quais poderão ser patenteadas.

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